Os Três Níveis da Personalidade
Vimos que a estrutura da personalidade se divide em duas partes: o consciente e o inconsciente, que, por sua vez, se divide em duas partes totalizando três zonas: subconsciente e superconsciente. A primeira zona é a consciência conhecida, normal, racional, prática, que todos distinguem. As outras duas zonas contém o passado (subconsciente) e o futuro (superconsciente).
Analisando de forma conjunta a estrutura da personalidade temos três zonas, três funções e três sedes: corpo, cérebro e espírito constituem, respectivamente, as sedes do subconsciente (experiência escrita na carne), consciente e superconsciente (experiência escrita no espírito); instinto, razão e intuição são, respectivamente, suas funções associadas e que possuem, cada uma, uma fase, de captação (pela intuição), de assimilação (pela razão) e de depósito (pelo instinto). “A personalidade humana, una e trina como o universo, possui, portanto, o organismo instintivo da besta, o cérebro raciocinante do homem, o espírito intuitivo do super-homem” (UBALDI, ANCTM, p. 386).
Outra forma de correspondência que encontramos se dá “entre subconsciente, instinto, animalidade, ondas longas e baixa frequência de um lado, e superconsciente, intuição, espiritualidade, ondas curtas e alta frequência do outro” (UBALDI, ANCTM, p. 381). A evolução é um processo que vai do animal ao super-homem, caminha do subconsciente ao superconsciente “como das ondas longas e baixa frequência às ondas curtas e alta frequência” (UBALDI, ANCTM, p. 381). A compreensão é possível entre aqueles que estão no mesmo padrão vibratório “tendo portanto, partes comuns de ressonância, isto é, que vibram, como já dissemos em capítulos precedentes, com o mesmo comprimento de onda, velocidade e freqüência vibratória, que é o que justamente diferencia o grau de evolução” (UBALDI, ANCTM, p. 381).
Temos ainda uma correspondência com três tipos biológicos, de acordo com o grau de desenvolvimento individual: a besta, o homem e o super-homem. Na base (corpo) está o animal, feito de instintos (subconsciente). No cérebro, o homem racional (consciente). No espírito, a intuição (superconsciente) e o super homem.
Com a evolução o centro consciente tende a passar do nível inferior ao superior. Na escala da evolução uns são conscientes, poder-se-ia dizer, à altura da cabeça, outros à altura do ventre e outros à altura dos pés. Uns têm a cabeça abaixo do nível dos pés de outros; outros têm os pés acima do nível da cabeça de outros (UBALDI, ANCTM, p. 380).
Cada tipo biológico corresponde uma forma de ação: instintiva, racional, intuitiva e também três formas de trabalho: captação, assimilação e armazenamento.
Estabelecemos, até aqui, as seguintes relações do subconsciente, consciente e superconsciente com a besta, o homem e o super-homem; com o instinto, a razão e a intuição; com o armazenamento, a assimilação e a captação; com o ato terminado, o atual, e o futuro; com a recordação, a ação, e o pressentimento; com o passado, o presente e o porvir; com a cauda, o centro e a cabeça no caminho da evolução (UBALDI, ANCTM, p. 382).
E ainda: com as ações consumadas (que representam o trabalho feito), com as ações atuais (que representam o trabalho que se faz) e com as tentativas e explorações (que representam o trabalho que se fará). Finalmente, com a lembrança, a ação e o pressentimento.
No homem estão presentes o mesmo físio-dínamo-psiquismo do cosmos, razão pela qual a personalidade humana pode ser comparada a trindade universal. A estrutura da personalidade funciona de acordo com o físio-dínamo-psiquismo em torno do qual o pensamento
na forma humana, se materializa, passando do superconsciente ao subconsciente, através do dinamismo do consciente. Temos, também, aqui, portanto, não uma simples estrutura, mas um funcionamento. No ciclo experimental, que acabamos de ver, o dinamismo vem do subconsciente em direção ao superconsciente, tentando a experiência e conquista do alto; no ciclo de assimilação, o dinamismo desce do superconsciente ao subconsciente, operando o armazenamento, a fixação dos resultados da experiência. A descentralização segue-se a concentração no ego. Este dinamismo dúplice e inverso, é o passo segundo o qual a personalidade progride” (UBALDI, ANCTM, p. 379-380 – grifo do autor).
Temos um sistema trifásico da personalidade no qual, embora o sistema seja único, igual para todos, sua posição é, no entanto, relativa e em graus evolutivos diversos. Um sistema que se movimenta e avança tendo à frente o superconsciente, no centro o consciente e no fim o subconsciente.
Captação, registro e armazenamento de experiências embora se deem de acordo com a escala evolutiva, “o processo, o método, é idêntico para todos, o resultado é sempre ascensão, autoconstrução, progresso da fase evolutiva subconsciente, à fase consciente e superconsciente” (UBALDI, ANCTM, p. 382).
Nos vários tipos humanos, do extremo involuído ao extremo evoluído há infinitas, por assim dizer, posições ocupadas pelo sistema, caracterizando os vários estados psicológicos e vibratórios que são relativos a cada personalidade. Em outras palavras: “O que para alguns é superconsciente, personalidade futura, embrional, ainda a ser acabada, para outros é consciente em formação ou mesmo subconsciente, isto é, personalidade instintiva já construída” (UBALDI, ANCTM, p. 381). Cada zona (subconsciente, consciente e superconsciente) é relativa ao grau de desenvolvimento do indivíduo e pode ocupar diferentes graus na escala da evolução. “O que para o involuído é futuro, para o evoluído é passado” (UBALDI, ANCTM, p. 381).
Tais zonas são relativas a cada indivíduo, em conformidade com o seu grau de desenvolvimento e evolução pessoal, relativas tanto em amplitude quanto em posição.
Aquilo que é consciente ou superconsciente para alguns, pode ser subconsciente (ou seja, caminho percorrido e experiências adquiridas) para outros mais adiantados. Esses limites variam, também, durante a vida do mesmo indivíduo, pois a vida é justamente o período das aquisições e transformações de consciência. A idade mais adequada a essas aquisições — em outras palavras, mais susceptível de educação — é a juventude. A consciência, refeita pelo repouso, é mais propensa à assimilação, ao estabelecimento de novos automatismos, que depois se fixarão indelevelmente no caráter; os primeiros, serão os mais profundos e mais resistentes (UBALDI, AGS, p. 310).
É preciso salientar que este modelo observado aqui se dá “em relação a um tipo médio situado com o consciente no plano da razão, com o subconsciente no plano dos instintos e com o superconsciente no plano da intuição e do espírito” (UBALDI, ANCTM, p. 382). Todavia, de acordo com a evolução, a posição do sistema (e não sua estrutura) se modifica, para cada caso em particular: “Expomos aqui o sistema, a estrutura da personalidade, e não sua posição evolutiva que muda para cada caso em particular” (UBALDI, ANCTM, p. 382).
O subconsciente já foi consciente, resultado das experiências vividas, campo ativo das formações atualmente cristalizadas e fixadas como instinto: “O subconsciente nada mais é que um consciente decaído” (UBALDI, ANCTM, p. 379). O consciente, por um lado, será subconsciente amanhã, irá se fixar como produto feito de qualidades assimiladas (instintos). Por outro lado: “O consciente não é nada mais que o superconsciente coordenado, disciplinado, equilibrado, intuição trazida à razão e submetida ao seu controle, elemento incerto e transitório, embora sublime, enquadrado transitoriamente à realidade da vida” (UBALDI, ANCTM, p. 379). O superconsciente, por sua vez, será consciente amanhã, ou seja, o que hoje é intuição incompreendida, amanhã será um processo racional normal. “O involuído e o normal tornar-se-ão, portanto, conscientes na zona atualmente coberta pelo superconsciente, no campo onde hoje é consciente a única exceção biológica representada pelo evoluído” (UBALDI, ANCTM, p. 379). Assim se completa o processo de aperfeiçoamento da personalidade, por sucessivas estratificações.
Uma outra forma de pensar a questão é como o instinto pode ser visto como uma forma rudimentar de racionalidade que, por sua vez, a razão pode ser vista como uma forma rudimentar de intuição: “A intuição pertence a um plano ainda mais alto; é a forma ainda mais complexa, porém mais primitiva da razão” (UBALDI, ANCTM, p. 377).
Enfim, entre instinto, razão e intuição a diferença está no grau de trabalho para a captação e assimilação das experiências. A intuição atua no superconsciente que é uma antena estendida como antecipação em direção aos mais altos e inexplorados graus de evolução, para captar o novo, o inédito, o futuro. A razão atua no consciente. Não funciona por raios, como a intuição, é menos rápida, porém, mais contínua, mais ordenada, mais segura. Precisamente porque se projeta para menos alto, é mais equilibrada, porém, mais curta e limitada. O instinto é obra terminada, cujos resultados perdem-se no subconsciente, depositando-se nesse magazin de reservas, como patrimônio da personalidade que aí se pode reabastecer segundo as necessidades. A medida que se avança, a fase evolutiva, inicialmente conseguida somente pelos raios da intuição, torna-se domínio normal e controlado da razão, cumprindo a função de assimilação que encontramos terminada no instinto (UBALDI, ANCTM, p. 378 – grifo do autor).
Pietro Ubaldi → A psicanálise evolucionista e espiritualista de Pietro Ubaldi → Os Três Níveis da Personalidade