A Estrutura da República
Sócrates, como na maioria das obras platônicas, é o personagem principal da República e levanta a questão de uma vida e de uma sociedade justa, vendo na educação um meio para alcançá-la e mostrando a necessidade de se dedicar a uma vida de excelência, da qual é necessário o cultivo das virtudes como a temperança, a coragem, a sabedoria e a justiça. Ele representa o filósofo que se esforça constantemente para atingir a sabedoria e as virtudes em sua própria vida. Como um mentor educacional, Sócrates mostra-se como um tipo de “parteiro” de ideias, e um pedagogo que conduz os líderes potenciais a descobrir a verdade por si mesmo, “expurgando-os” das falsas opiniões e encorajando-os a perseguir a verdade com a ajuda de seu mentor filosófico.
Além de Sócrates temos Trasímaco, que participa ativamente na discussão apenas no Livro I, representando a posição dos sofistas como defensores do auto-interesse e do governo tirânico da comunidade pela força e, assim, sua presença permanece durante todo o diálogo, representando as tendências tirânicas dos sofistas no reino político e social.
No diálogo aparecem ainda os personagens Glaucon e Adimanto que representam o papel de filósofos potenciais, colocados entre a força tirânica e a persuasão filosófica, entre a opressão violenta e uma sociedade justa, e entre os pólos da vida filosófico-prática e a busca sofística do auto-interesse.
Eis a estrutura da obra: Sócrates está presente no diálogo como um mentor filosófico deste jogo e um filósofo da mais alta categoria. Os sofistas são a principal oposição de Sócrates e são representados por Trasímaco como um competidor profissional para o governo e a soberania da cidade e como um importante jogador na disputa pela supremacia pedagógica no processo de estabelecimento de uma sociedade justa ou tirânica. Os outros que entram no jogo, particularmente Adimanto e Glaucon, são amadores – nem filósofos profissionais nem sofistas. Daí eles terem Sócrates e Trasímaco diante deles como modelos pedagógicos e de liderança jogando o jogo sério da vida política e como mentores rivais na direção e educação de seus cidadãos. Assim, Sócrates e Trasímaco representam tipos opostos de liderança e de abordagens educacionais – Trasímaco como o sofista tirânico e dominador, por um lado, e Sócrates como o filósofo capacitado e co-pesquisador da sabedoria, por outro. A coerção sofistica de um lado e a persuasão filosófica de outro.
Agora que já conhecemos um pouco melhor a estrutura da obra, passemos a entender o seu projeto Ético-Político-Pedagógico.
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