Teilhard de Chardin

por Alexsandro M. Medeiros

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postado em 2018

 

            Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) foi um padre jesuíta, teólogo, místico, filósofo e paleontólogo francês. Teilhard entrou para o noviciado da Companhia de Jesus em 1899, em Aix-em-Provence, província de Lyon, ordenando-se sacerdote aos 30 anos, em 1911.

        A porta de entrada para a comunidade científica se deu ao cursar paleontologia, entre 1912 e 1914, no Museu de História Natural de Paris. Tornou-se professor de geologia no Instituto Católico de Paris em 1920 e dois anos depois obteve seu doutorado na Universidade de Sorbonne. O título de sua tese: Os mamíferos do eoceno inferior francês e seus sítios.

        Desde muito cedo, Teilhard nutria um prazer pela ciência ao mesmo tempo em que possuía inclinação para a vocação religiosa.  Foi por volta dos seis anos que ele relata a seguinte experiência: “Remonta aos seis anos a sua primeira exploração, acompanhado da sua irmã, a um vulcão próximo de sua casa. Nesta época, fascinado pela solidez e pela durabilidade, recolhia um velho bico de arado ou uma pedra” (LANGER, 2018, p. 12). Em seu espírito dominava a paixão pelas pedras que o conduzirá mais tarde à Geologia, além do sentimento religioso. “Esses dois sentimentos despertados no espírito de Teilhard de Chardin e a aparente firmeza do conflito existente entre eles, a ciência natural e a religião, permaneceram com ele ao longo de toda sua vida” (LUCARELLI, 2019, p. 23). Assim se explica porque ele tentou construir uma visão integrada entre ciência e religião, procurando reconciliar a visão de mundo material da ciência, com a visão de mundo espiritual da teologia.

        Foi criticado pelas duas vertentes: a científica e a religiosa. Os primeiros, com algumas exceções, negaram o valor científico de sua obra, acusando-a de ter uma linguagem estranha à ciência. Do lado religioso, suas obras teológicas foram censuradas e proibidas de serem publicadas sendo submetido a um duro período de exílio na China. Apenas postumamente a Igreja Católica reconheceu o mérito de seu trabalho. “Poucos autores, na história da Igreja, foram objeto de tão fervorosa admiração e de rejeição tão implacável” (LIMA VAZ, 1996, p. 347).

            Entre 1941 e 1981, a Congregação dos Seminários e Estudos da Igreja Católica publicou várias advertências sobre o uso das obras de Teilhard. Uma delas, em 30 de junho de 1962, chamada de Monitum, dizia: “Contra os riscos apresentados, o Magistério eclesial declara: ‘É bem manifesto que no plano filosófico e teológico essas obras regurgitam de ambiguidades tais e até de erros graves que ofendem a doutrina católica’” (SOUZA, 2007, p. 89). Por outro lado, as obras de Teilhard também foram acompanhadas de elogios e encorajamentos “sendo citadas em discursos dos Papas Paulo VI e João Paulo II e de Bento XVI, quando ainda era Prefeito da Congregação da Fé” (SOUZA, 2007, p. 90).

        A tensão entre a ciência e a religião “ocupou lugar importante nas reflexões de Teilhard por muitos anos, pode-se dizer, por toda a vida. Sua busca será sempre a harmonia entre dois mundos que faziam parte de sua existência” (BORGES, 2015, p. 174). Teilhard procurou demonstrar que não existe incompatibilidade entre religião e ciência. “Nisso reside a originalidade da espiritualidade de Teilhard de Chardin: a unidade, a conciliação, a ligação” (LANGER, 2018, p. 22). Opinião que é compartilhada por Rauli e Pessini (2019, p. 232) ao afirmar que a originalidade do pensamento de Teilhard: “consiste, justamente, na busca de integração entre as concepções materialistas e espiritualistas, concebendo uma cosmovisão integradora da realidade”. Essa visão integradora aponta para uma cosmologia espiritualista e um novo sentido para a existência humana dando à luz à ideia de uma era da conscientização humana conhecida como revolução noética (HALÉVY, 2010; RAULI; PESSINI, 2019).

        Teilhard tomou para si a tarefa de buscar essa ligação e essa conciliação como, por exemplo, a partir da leitura da obra A Evolução Criadora de Henri Bergson que teve um impacto profundo no espírito de Teilhard. Mesmo do ponto de vista teológico, Teilhard irá assumir as ideias evolucionistas procurando realizar, também neste campo, uma síntese original entre a ciência e a fé cristã. Foi fascinado pela ideia de evolução que Teilhard empreendeu “a gigantesca e fascinante reflexão que ele apresenta em O Fenômeno Humano. Em síntese, ali desenvolve a passagem de um cosmos estático a um universo em evolução” (LANGER, 2018, p. 23). Em outras palavras, Teilhard procurou conciliar as ideias de criação e evolução. Para o teólogo francês, tal oposição era apenas aparente. O conceito de criação é teológico, bíblico, metafísico, religioso, que se fundamenta na relação da criação com o seu criador. O conceito de evolução é de natureza científica e, para Teilhard, a ideia de criação do mundo não exclui a evolução biológica e, por outro lado, a evolução pressupõe a criação. A obra de Deus (criada por Ele), converge para Ele mesmo (evolui para Ele). Em Deus se revela todo o sentido da evolução.

Sua obra discorre a respeito da evolução de todo o Universo – do caos primordial até o despertar da consciência humana sobre a Terra –, estágio que é seguido por uma noogênese, a integração de todo o pensa­mento humano em uma única rede inteligente que acrescenta mais uma camada em volta da Terra: a noosfera. A noosfera representa, assim, a camada de saberes e de conhecimentos que cobre a Terra e suas redes, sobrepondo-se à biosfera e à sociosfera (RAULI; PESSINI, 2019, p. 232).

        Em 1951 Teilhard transferiu-se para Nova York onde permaneceu até a sua morte em 1955. Foi ao mesmo tempo um período fecundo e doloroso. Trabalhou ainda mais intensamente pela renovação da visão cristã entregando-se a missão de conciliar a ciência e a religião, mas permaneceu incompreendido.

 

O exílio na China

        A partir do momento que Teilhard começa a divulgar suas ideias começa a surgir os primeiros problemas com as autoridades religiosas, tanto da Companhia de Jesus quanto da própria Igreja. “Frente aos problemas com as autoridades, que não estavam preparadas para acolher a novidade do seu pensamento, os seus superiores, após uma série de deliberações, decidem enviá-lo para a China” (LANGER, 2018, p. 14). “Oficialmente não se fala em exílio, mas de acordo com Vigorelli, ‘[...] o padre Leroy confirmou que além do silêncio, consequentemente lhe foi imposto o exílio’” (VIGORELLI, 1963, p. 17 apud BORGES, 2015, p. 160).

          Seu exílio na China, porém, lhe rendeu muitos frutos. A primeira viagem foi em 1923 e até o ano de 1945 realizaria ainda inúmeras outras. A China foi para Teilhard seu país adotivo, onde ele passaria boa parte de sua vida e transformou-se “praticamente em sua residência permanente. A China foi para ele uma ‘segunda pátria’” (LANGER, 2018, p. 15).

          Realizou diversas expedições paleontológicas em Pequim e em 1929 participou da descoberta e estudo do sinantropo, tido como o primeiro habitante da China “e que atualmente está classificado como homo erectus pekinensis” (LUCARELLI, 2019, p. 35), ou simplesmente o homem de Pequim. Realizou pesquisas em diferentes lugares do continente asiático, como na Índia e na Birmânia.

 

Dr. Pierre Teilhard de Chardin, consulting Paleontologist of the National Geological Survey of China, is shown at a symposium of Early Man at the Academy of Natural Science in Philadelphia, Pa., in this March 18, 1937 file photo. De Chardin holds a skull of a Peking man he found in China. (AP Photo/FILE)

Disponível em: CTV News. Acesso em: 12 jun. 2021

 

            Foi na China que ele encontrou um clima favorável para escrever e assim ele se expressa em uma carta a uma amiga:

Seria perfeito, no entanto, se no próximo ano eu pudesse ter seis ou oito meses de isolamento na China. Eu tenho necessidade de um período assim para assimilar e anotar o que eu vejo atualmente; e por alguma razão obscura, o Extremo-Oriente é para mim o clima mais estimulante para escrever (TEILHARD DE CHARDIN, 1968, p. 153 apud BORGES, 2015, p. 229).

            Vale ressaltar que foi nesta etapa de sua vida que escreveu as suas duas obras primas: O Meio Divino e O Fenômeno Humano. Esta obra foi encaminhada para Roma em 1940, que fez várias revisões sem que o nihil obstat fosse concedido, até que sua publicação não foi autorizada em 1948. O Fenômeno Humano é uma obra que nos remete à História do Mundo, como afirma Lucarelli (2019, p. 50): “desde sua criação até seu fim escatológico. Ele coloca o Homem acima de todos os outros seres e até mesmo da natureza e divide sua interpretação do Mundo em quatro fases: A pré-vida, a vida, o pensamento e a sobrevida”. Entretanto, por causa das proibições impostas pela Igreja, Teilhard não publicou suas obras em vida e até mesmo depois de sua morte, quando suas obras foram então publicadas, “foram alvo de um Monitum do Santo Ofício, datado de 30 de junho de 1962, contra os erros e ambiguidades contidas nos seus escritos” (BORGES, 2015, p. 160). Antes mesmo deste monitum de 1962, um decreto de 1957 “já havia ordenado a retirada das obras do padre Teilhard das bibliotecas dos seminários e das instituições religiosas” (apud BORGES, 2015, p. 211), sendo proibido, inclusive, traduções e exposições em livrarias católicas.

 

O Fenômeno Humano

            A obra analisa a História do Mundo desde sua origem mais longínqua, que ele denomina de estofo do Universo: o Universo material. E como, a partir de um processo evolutivo as fases desse universo vão se sucedendo, desde antes do aparecimento da vida (pré-vida) até o surgimento da vida e do pensamento.

Entre os numerosos escritos do nosso autor O Fenômeno Humano ocupa um lugar central. Com esta obra, escrita em um momento de plena atividade científica e maturidade intelectual, sua visão de mundo toma forma própria. Os primeiros estudos foram iniciados em 1927, sendo concluídos em 1940. Retocou-o em 1947-1948, chegando à publicação em 1955 (SOUZA, 2007, p. 73).

            A gênese do Universo (Cosmogênese), o surgimento da vida (Biogênese) e o aparecimento do Homem (Noogênese) são os três fatores mais importantes da evolução que se expressam no que Teilhard chama de Lei de Complexidade e Consciência, segundo a qual: “o mundo atual é nada mais que o resultado de um movimento contínuo descontinuado da nãovida (cosmogênese) à vida (biogênese) e da vida à auto-reflexão do homem (antropogênese)” (SOUZA, 2007, p. 60).

            Antes de avançarmos, vale a pena tecer algumas breves considerações sobre a Lei de Complexidade e Consciência. Pela Lei de Complexidade a evolução segue uma direção determinada submetida a uma complexidade cada vez mais crescente, ou seja, do simples, a evolução caminha para o complexo ou para formas cada vez mais organizadas: “Dos átomos às moléculas; das moléculas às células; das células, finalmente, a toda a gama dos seres vivos, entre os quais é evidente uma sucessiva e maior complexificação: insetos, peixes, anfíbios, répteis, mamíferos, ser humano” (CUNHA, 2018, p. 90). Já a Lei de Consciência também pode ser entendida como Lei de interiorização, em que o processo de complexificação dos seres vivos é correlato a um processo de interiorização, em outras palavras: “O grau de interioridade das coisas, ou de consciência, relaciona-se ao grau de complexificação das mesmas” (CUNHA, 2018, p. 90).

 

Disponível em: Religion Dispatches. Acesso em: 12 jun. 2021

 

            Retomando o argumento inicial, temos que o Universo teve um início, a Cosmogênese. Nessa fase, que antecede a vida, temos a matéria e a energia. “No tempo certo e em condições favoráveis, a continuidade física da Evolução passa por um processo de descontinuidade – atinge um ponto crítico – que marca uma mudança de estado” (SOUZA, 2007, p. 60). Na matéria atuam a energia que Teilhard chama de tangencial e a energia radial. A energia é a responsável pelo movimento do Universo, sendo que “Energia radial é aquela que liga cada parte de um ser ao seu próprio centro, à sua unidade, enquanto energia tangencial é aquela que sai para fora” (SOUZA, 2007, p. 64).

De acordo com a complexificação e interiorização da Matéria, a Evolução vital emerge como um percurso relacionado à dualidade entre o exterior da Matéria e o interior da Matéria. No crescimento bifacil da “textura cósmica”, o Real fora ordenado através de “arranjos” entre a Energia tangencial e a Energia radial, o que possibilitou e a criação e a transmutação de corpúsculos, do Átomo à epifania das primeiras formas celulares (SANTOS, 2011, p. 27).

            A evolução vai da não-vida, para a pré-vida e finalmente desemboca na vida. Através de um processo cada vez maior de complexidade “dos átomos originam-se as moléculas simples; destas, as macromoléculas, as proteínas; da organização das micelas formam-se células que darão origem à vida” (SOUZA, 2007, p. 64). A Vida! Eis a Vida! (TEILHARD DE CHARDIN, 1966, p. 75). Temos a Biogênese. A vida se inicia a partir da célula, simples em sua estrutura e funcionamento. “As Células mais primitivas devem ter sido muito simples – possuindo uma constituição mínima – necessária para os processos protoplasmáticos: uns externos – assimilação, reprodução... –, outros internos – interiorização, psiquismo” (SANTOS, 2011, p. 28 – grifos do autor). A célula é o grão natural da vida, da mesma forma que o átomo seria o grão natural da matéria (embora hoje se saiba que os átomos não formam a constituição básica da matéria, uma vez que são formados, por sua vez, de partículas ainda mais elementares).

            Perscrutar a Biogênese é uma tarefa bastante complexa e extensa, pois a vida representa uma complexificação de milhões de seres vivos, desdobrando-se em um processo de expansão vital que Teilhard chama de a Árvore da Vida. Nas origens desta Árvore da Vida estão as células: seres unicelulares (reino protista, reino monera), em seguida os seres multicelulares que irão formas a base da enorme complexidade da teia da vida. O caminho é longo até chegar ao ramo dos vegetais, dos vertebrados, dos artrópodes (insetos, crustáceos, aracnídeos...), dos mamíferos, até o surgimento dos primatas antropóides.

            De modo geral, a vida se expande a partir de seis movimentos elementares: reprodução (assexuada ou sexuada, base da expansão da biosfera), multiplicação (a força de expansão da biosfera desdobra-se pela via da multiplicação), renovação (o processo de multiplicação implica desagregação – da célula, por exemplo – ao qual se acrescenta algo novo), conjugação (refere-se a união e mistura que leva a uma combinação do material genético), associação (a multiplicação da vida leva ao seu agrupamento, desde as associações de fungos e bactérias até à sociedade humana), aditividade dirigida (o fenômeno da aditividade é resultado da lei de complexificação que dirige a evolução para a encefalização) (CUNHA, 2018, p. 98-101).

 

 

 

Disponível em: Island94

Acesso em: 12 jun. 2021

 

 

            Mas a vida não é o termo final da evolução: “o Universo caminha do totalmente Fora (inconsciência) ao início do totalmente Dentro (consciência)” (LUCARELLI, 2019, p. 53). A consciência está presente desde a matéria elementar, mas surge apenas no fenômeno humano, se manifesta de modo explícito e completo no ser humano. O termo consciência “é tomado na sua acepção mais geral, para designar qualquer espécie de psiquismo, desde as formas mais rudimentares de percepção interior que se possa conceber, até ao fenômeno humano de conhecimento reflexivo” (TEILHARD DE CHARDIN, 1966, p. 36 apud SOUZA, 2007, p. 62).

            Chegamos então ao ponto de hominização (ou passo da reflexão), que se refere a passagem do instinto para o pensamento. Com a hominização chegamos a Noosfera (do grego nous: pensamento; e do latim sphaera: esfera): “após o grão da Matéria, após o grão da Vida, eis o grão do Pensamento enfim constituído” (TEILHARD DE CHARDIN, 1966, p. 36 apud SOUZA, 2007, p. 65). O fenômeno humano “representa não só um novo momento na história de nossa evolução mas o advento de uma nova era, o surgimento de uma esfera ou um estágio superior manifestado pelo nous” (SILVA, 1998, p. 37). O passo da hominização “representa um avanço radical na evolução, ele cria um universo interior. A vida interior manifestada pelas diversas atividades do espírito (abstração, lógica, matemática etc) representa uma nova realidade, um outro mundo que nasce” (SILVA, 1998, p. 38). Emergiu o fenômeno humano, enraizado na cosmogênese e alicerçado na biogênese. O fenômeno vital prosseguiu sua linha evolutiva desdobrando-se em pensamento: a consciência pré-reflexiva tornou-se reflexiva. O homo sapiens, porém, não surgiu de um salto. Ramifica-se em outras fases, como a do homem quaternário inferior (Pitecantropo de Java e o Sinatropo da China), o quaternário médio (Neandertaloide):

Tratando-se do Quaternário-médio, estávamos, de certo modo, sob a presença de representantes da raça humana. Percebem-se indiscutíveis casos de sepulturas, o que contribui para que Teilhard definisse o tipo Neandertaloide como um autêntico Homem. “Verdadeiro Homem, pois; - e, contudo, Homem que não era ainda exatamente igual a nós” (SANTOS, 2011, p. 47 – grifos do autor).

            Pela Lei de Complexidade-Consciência temos então que a vida e a consciência pré-reflexiva atingem um maior nível de complexidade ao atingir o Passo da Reflexão no homo sapiens. No caso do ser humano, o parâmetro de complexidade, tal como estabelecido pela Lei de Complexidade-Consciência, é fornecido pelo grau de desenvolvimento cerebral e do sistema nervoso central.

          O processo de hominização segue adiante. Ao pensamento e à consciência atrela-se a noção de pessoa e a humanidade se expande cada vez mais a partir do qual é possível destacar três momentos de relevada importância: a individuação, o povoamento da Terra e o nascimento das civilizações.

 

Da Cosmogênese ao Ponto Ômega

            O leit-motiv da extraordinária aventura teórica e humana vivida por Teilhard de Chardin, afirma Lima Vaz (1996, p. 351), foi a questão de Deus. Só assim poderemos captar o seu sentido profundo e nos situarmos no centro irradiador do seu pensamento.

A questão de Deus está no centro da visão teilhardiana e é dela que parte o seu eixo ordenador. Podemos mesmo considerar o pensamento de Teilhard de Chardin como uma tentativa grandiosa de responder à pergunta que, como gládio impiedoso, atravessará a alma do homem da tradição judeu-cristã no século XX: é possível pensar Deus, crer em Deus, aceitar Deus e agir à luz da existência de Deus num mundo que, aparentemente, chegou ao termo da imensa operação cultural, iniciada dois séculos antes, de liquidar de vez a herança teísta de uma história imemorial? (LIMA VAZ, 1996, p. 350-351).

            Teilhard teve diante de si todo o ateísmo decorrente da modernidade e da contemporaneidade e, apesar disso, foi ali, no seio mesmo desta cultura, que ele se lançou nesta aventura “da busca de Deus no deserto de uma cultura pós-teísta” (LIMA VAZ, 1996, p. 352).

        O processo evolutivo que teve início com a matéria, passou pela energia, pela pré-vida, desembocou na vida e na consciência deve encontrar ainda o seu último termo: o ponto ômega.

 

 

Referências Bibliográficas

BORGES, Deborah Terezinha de Paula. Diafania de Deus no Coração da Matéria: A Mística de Teilhard de Chardin. Tese (Doutorado em Ciência da Religião), Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora-MG, 2015.

CUNHA, Mariana Paolozzi S. da. Aspectos da personalização do universo em Teilhard de Chardin: da individualização e multiplicidade da vida à ipseidade do ser humano. Filosofia e História da Biologia, v. 13, n. 1, p. 89-107, 2018. Acesso em: 13 jun. 2021.

HALÉVY, Marc. A era do conhecimento: princípios e reflexões sobre a revolução noética no século XXI. São Paulo: UNESP, 2010.

LANGER, André. A Espiritualidade de Teilhard de Chardin. Tabulæ - Revista de Philosophia, ano 12, n. 24, p. 10-37, jan.-jun., 2018. Acesso em: 09 jun. 2021.

LIMA VAZ, Henrique C. de. Teilhard de Chardin e a Questão de Deus. Síntese Nova Fase, Belo Horizonte, u. 23, n. 74, p. 345-370, 1996. Acesso em: 06 jun. 2021.

LUCARELLI, Vera Lúcia Moreira Alves. Ciência e Espiritualidade no Pensamento de Teilhard de Chardin. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião), Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo-UMESP, São Bernardo do Campo-SP, 2019.

RAULI, Patricia Maria F.; PESSINI, Leocir. O progresso tecnocientífico e o desafio de construir uma educação para o futuro: dialogando com Teilhard de Chardin, Van Rensselaer Potter e Edgar Morin. Rev. Cienc. Educ., Americana, ano XXI, n. 43, p. 227-244, jan./jun. 2019. Acesso em: 11 jun. 2021.

SANTOS, Gleidson Luiz Cabral. A Noosfera em Teilhard de Chardin: a História Evolutiva do Pensamento. Dissertação (Mestrado em Filosofia), Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, 2011.

SILVA, Fábio de Barros. Teilhard de Chardin: A Ideia de Evolução e a Vida Pessoal. Μετανόια, São João del-Rei, n. 1, p. 31-42, jul. 1998/1999. Acesso em: 11 jun. 2021.

SOUZA, Maria Aparecida de. Criação e Evolução: em Diálogo com Teilhard de Chardin. Dissertação (Mestrado em Teologia), Programa de Pós-graduação da Faculdade de Teologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, 2007.