Não chorem à beira do meu túmulo!

10/08/2022 20:21

            Eu estava pensando no que escrever, quando recebi um vídeo com a declamação do poema cujo título abre esta crônica. Neste dia 5 de agosto, tivemos a notícia do falecimento de Jô Soares, um dos mais geniais humoristas que o Brasil já teve. Todos os programas de humor em que ele se apresentou, e foram inúmeros, primavam pela exteriorização da alma de uma pessoa alegre e criativa, cujo nascimento na Terra tinha uma missão primordial: fazer-nos sorrir, rir, dar gargalhadas, chorar de tanto rir.

          Pois bem, o declamador do vídeo foi Jô Soares, e o poema é de  Mary Elizabeth Frye, poetisa norte-americana. Eis o que Jô declamou:

Não chorem à beira do meu túmulo,

eu não estou lá.

Estou no soprar dos ventos,

nas tempestades de verão

e nos chuviscos suaves da primavera.

 

Eu sou a prece inquieta dos ruídos da cidade

e o silêncio das madrugadas.

 

Não chorem à beira do meu túmulo,

eu não estou lá.

Estou no brilho das estrelas

perfurando a noite

e no cantar alegre dos pássaros.

 

Não, não chorem tristes, à beira do meu túmulo,

eu não estou lá.

Eu não morri,

eu sou a vida incessante e livre

que corre nas águas do rio.

 

            Embora todos nós sejamos imortais, muitas pessoas passam do plano físico para o espiritual sem deixar boa lembrança nos que ficam. Pessoas como Jô, entretanto, permanecem por longos anos, não só pelo que ele era. Seus amigos e quem trabalhava com ele, desde o garçom Alex, que servia a água, até o funcionário apelidado Sr. Madruga, por ser parecido com o personagem do programa humorístico mexicano intitulado Chaves, todos eles choraram a perda desse amigo que a ninguém discriminava e a todos tratava bem.

            Será, portanto, difícil aos que visitarem ou não seu túmulo obedecer ao refrão do poema que ele um dia declamou. Por mais que se contenham os que o amam, ao menos uma lágrima de saudade descerá teimosa dum dos seus olhos. Mas sua imagem será sempre a do maestro da alegria.

            Vai com Deus, Jô, teu palco agora é nas estrelas! Paz e luz.

 

 

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Sobre o Autor

Jorge Leite de Oliveira é

Consultor Legislativo aposentado da CLDF. Formação acadêmica: Bacharel em Direito (Advogado, OAB/DF 16922); grad. em Letras (UniCEUB); pós-grad. em Língua Portuguesa(CESAPE/DF) e em Literatura Brasileira (UnB); Mestre em Literatura e Doutor em Literatura pela UnB. Professor de Língua Portuguesa, Redação, Orientação de Monografia, Literatura e Pesquisas, no UniCEUB, de 1º set. 1988 a 1º jul. 2010. Palestrante, escritor, revisor e articulista espírita. Autor do Blog: <jojorgeleite.blogspot.com/>.

 

Autor dos livros:

1. Texto acadêmico: técnicas de redação e de pesquisa científica. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.

2. Guia prático de leitura e escrita. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

3. Chamados de Assis: espaços fantásticos do Rio mutante na obra machadiana. Curitiba, PR, 2018.

4. Da época de estudante de Letras: edição esgotada: Mirante: poesias. Brasília: Ed. do autor, 1984.

5. Texto técnico: guia de pesquisa e de redação. 3. ed. rev., ampl. e melhorada. Brasília: abcBSB, 2004 (também esgotada).

 

Contato:

jojorgeleite@gmail.com