Psicologia Social

Breves Considerações

por Elisângela Feitosa de Souza

lattes.cnpq.br/7575641565639038

autora do blog Psicopedagogia & Interdisciplinaridade

postado em set. 2016

 

            A Psicologia Social é um ramo da psicologia que procura estabelecer uma ponte entre a psicologia e as ciências sociais, dentre as quais podemos destacar não apenas a sociologia, mas também a antropologia, a história e, inclusive, a ciência política. Dentre os postulados da Psicologia Social que interessam de modo mais específico a ciência política está a ideia de que fora das motivações psicológicas, não é possível ter uma compreensão satisfatória dos fatos sociais e, por concomitantemente, do processo político. O que está na base dos fenômenos políticos, para a Psicologia Social, é que os fundamentos do poder e da obediência são de natureza psicológica.

            A Psicologia Social se interessa, como a Sociologia ou a Antropologia, pelo comportamento social dos indivíduos, mas dando ênfase aos processos sócio-cognitivos que possam explicar tais comportamentos. Enquanto ciência empírica utiliza métodos diversificados de pesquisa para o estudo sistemático do comportamento social humano: de como os pensamentos, sentimentos e comportamentos das pessoas são influenciados pela presença – concreta ou imaginada – de outros indivíduos. A Psicologia Social se interessa por temas como o preconceito, a violência, processos de grupo, entre outros.

            A Psicologia Social enxerga o individual de modo mais amplo e se interessa por entender como as forças sociais atuam sobre os indivíduos e vice-versa. E por isso interessa também à ciência política, no sentido de que aquilo que é vivido no campo individual contribui de alguma forma para a melhora ou piora da sociedade, para a manutenção ou quebra de paradigmas, implica nas motivações pessoais de luta pelo poder dominante.

 

 

 

O ser humano isolado do contexto social

            Na perspectiva de estar envolvido na sociedade e nesta manter relações e contribuir para com seu desenvolvimento, o homem é eminentemente um ser social e que, portanto, desta é dependente.

          Não seria necessário atribuir vantagens e desvantagens de como a sociedade e o papel desta, é importante no processo de formação do homem. Este ser que desde o berço recebe influência, e no decorrer de sua vida, outrossim, parece deixar-se moldar por ela. Porém pode o homem viver fora dela? Perdido em uma floresta, ou em uma ilha, passando a conviver com outros seres, ou ainda retirado dela por imposição de outro?

            Obras como “O menino selvagem”, “Ensaio sobre a cegueira”, e “Náufrago”, são exemplos de como fatos como estes são vivenciados – mostrando de fato o que a ausência do coletivo, da interação – enfim, da sociedade causa nas pessoas.

          O papel da civilização está inteiramente ligado à formação da personalidade do homem; e quando esta não está inserida nele, o que o influenciará? O menino selvagem conta a história de um adolescente que, privado de educação por ter vivido afastado dos indivíduos da sua espécie, é encontrado em uma floresta vivendo em condições desumanas, pois este já não tinha hábitos humanos, andava com os pés e as mãos no chão, subia em árvores, comia raízes. Quando o menino selvagem é retirado da floresta, é feito com ele um processo de socialização – pois este atribuíra a sua personalidade, agentes biológicos e físicos do meio ao qual estava inserido. De início, não iria ser fácil socializá-lo, agora com quase 13 anos, o menino selvagem teve de passar por vários testes, a fim de aprender, embora lentamente, a falar, a andar, comer com colher, usar roupas, etc. Graças à educação e a cultura atribuída ou imposta ao menino selvagem – Victor fora aculturado e aos poucos se tomando por hábitos humanos.

        O Náufrago retrata a vida de um homem contemporâneo em que seu cotidiano é corrido, pois trabalha demasiadamente, assim tem pouco tempo para a família e assuntos sentimentais. Vive em uma ilha por quatro anos, após um acidente de avião, ele fora o único sobrevivente. O personagem carrega com ele todos esses anos, uma fotografia de sua esposa e uma bola de vôlei, a qual dá o nome de Wilson. O personagem tenta adaptar-se aquele ambiente, o qual desconhece, no entanto, tenta desvendar todos os modos de sobreviver àquilo. Desde o fazer do fogo para aquecer-se, a glória de conseguir pegar um peixe, e até mesmo suportar as dores humanas naturais ou não. Como agiam nossos ancestrais, ele descobre a caverna e lá fez seu lar; de um modo surpreendente, não se deixa perder seus instintos e inteligência, passa a escrever e marcar nas pedras todos os meses que ali estivera; quanto ao isolamento, fez de uma bola sua companhia – sentia a necessidade de comunicação, e nela com seu próprio sangue pintou a face de um novo amigo. Após ser encontrado e resgatado, volta para o seu meio social de outrora. Ali, diferente da obra “O menino selvagem”, não houve conflito em sua volta a sociedade, já era adulto quando esteve sozinho, resta uma readaptação ao convívio social.

            O ensaio sobre a cegueira, filme baseado na obra do escritor português, José Saramago, conta a trama de uma cidade que é acometida por uma epidemia sem nome, uma cegueira branca contagiosa. No decorrer da história toda a sociedade vai se dissolvendo, assim como os valores, a dignidade humana, os princípios morais – é percebível quando tais pessoas contagiadas são colocadas isoladas de tudo e de todos, em um local indigno de se viver. Todos ali são postos sem cuidados e sem previsão para pesquisar a cura. As pessoas ali voltam ao estágio inicial de suas vidas, onde terá que aprender a viver de outra maneira, adaptando-se a falta da visão, neste sentido é deixado de lado o individualismo, percebendo que diferente será o caminho que terão de seguir, na descoberta dolorosa do eu e do outro, do coletivismo.

            Diante destas obras, e de sua relação com a Psicologia Social, é notável que o homem detém toda a história e o poder sobre as sociedades e de suas relações, influências ou contribuições, sejam estas boas ou não. Há quem diga e defenda que a sociedade molda o homem e que dela este depende. Mas até que ponto precisou dela, e por que nela não somos e agimos como iguais ou ainda, coletivos? Por que há o individualismo? Será preciso isolar-se da sociedade para reconhecer-se que precisamos um do outro, reconhecer a essência que há nisso tudo? Os valores morais estão sendo perdidos, o dedicar-se ao eu interior, a observação dos comportamentos próprios, o importar-se com a dignidade e o respeito pelo outro, são marcas que não devem ser deixadas, esquecidas ou ameaçadas.

 

Referências Bibliográficas

SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. Brasil, 2008.

TRUFFU, François. O menino selvagem. França, 1798.

ZEMECKIS, Obert. Náufrago. EUA, 2008.

 

A Política e suas Interfaces Psicologia e Política → Psicologia Social