A Era Capitalista
O texto abaixo é um trecho do capítulo 2.2.2.2.1, do volume 2 – As Sociedades Humanas, da obra Repensando o Universo, de Ariovaldo Batista. A obra completa está disponível para download em nosso site através do link: Repensando o Universo.
A era feudal da Idade Média trouxe uma grande evolução às sociedades humanas de algumas nações do Ocidente, mas pouca ou quase nenhuma influência no resto do Mundo. Além do fato que não trouxe muito avanço prático na área social e produtiva, e se encerrou a era feudal com os mesmos paradoxos sociais da era tribal, além de pouco avanço também nas áreas produtivas, tecnológicas e científicas. Daí talvez o apelido até correto de ser “Era das Trevas”. Mas de fato se tratam de equívocos de se priorizar os erros, e se marginalizar os acertos. A Europa era o mundo civilizado no final da Idade Média.
Como política, também se continuou no ranço da pajelança de uma elite “divina” espezinhando uma ralé humana. Tudo isso junto tornou a era feudal a continuação produtiva e política escravocrata da anterior Era Tribal e mesmo que nações emergissem do mero barbarismo para estágios melhorados de civilização, os equívocos da velha pajelança do cacique e do pajé continuaram os mesmos. Mas houve avanços no sistema político, de onde emergiu o conceito de nação. Ainda que de forma já delineada no Império Romano, não teve avanços além dos meramente casuísticos, onde o que se procurava de fato era fortalecer o sistema de “caciques e pajés” surgido ainda nos antanhos de Adão e Eva.
Três grandes eventos considerados e repetidos neste texto como sociais, selaram ou encerraram a Era Medieval Católica surgindo a Era Capitalista:
a) - A Reforma Religiosa, um mero grito de “chega de tanto barbarismo em nome de Deus”. Tem-se como história que essa reforma religiosa aconteceu com o surgimento do protestantismo como sabemos hoje, mas de fato começou a ocorrer ainda no século XIV com sábios religiosos como Tomás de Aquino, Agostinho e outros, que já começavam a questionar abusos e autoritarismos da Igreja inclusive no campo filosófico. A Reforma protestante foi na realidade fruto de um amadurecimento intelectual na própria Igreja e do seu clero “mais baixo”.
b) - As Grandes Navegações, um mero grito de “chega da máfia italiana” do comércio, e de que o Mundo não terminava logo ali no “final dos mares” como dogma de fé. Gênova e Veneza de fato monopolizavam o comércio principalmente com as rotas asiáticas ilustrados nos “caminhos da seda”.
c) - A Prensa Gráfica de Gutenberg, um mero grito de “chega de tanto dogmatismo” cuja finalidade única e pura era garantir a pajelança de uma elite culta formada e enclausurada nos mosteiros, sobre um povão ignorante. Desde a renascença Carolíngea, o ensino, a escrita, os livros etc. eram comandados de dentro dos mosteiros e conventos. A prensa mais mecanizada tornou o livro objeto de “uso comum”, ainda que muito restrito ainda no começo do capitalismo. Como cúmulo dos cúmulos, “o católico era proibido de ler a Bíblia”, mais outra estupidez burra de uma Igreja não se podia nem inventar. A Reforma Protestante transformou a Bíblia em leitura “obrigatória” de todos, como o grande brado de guerra dos protestantes, que de fato despertou o povo para a leitura.
Esses três grandes eventos acontecidos praticamente juntos, como também o grande evento anterior dos sábios gregos e Cristo 15 séculos antes, de fato deram outra “guinada” na evolução da sociedade humana, que se considera no texto equivalente ao surgimento da escrita através da religião. É possível imaginar o homem sem energia elétrica, automóvel e outros meios de locomoção, grandes cidades modernas, etc.? E nada disso havia a menos de um século atrás! Tanto quanto sem a escrita surgida nas religiões 40 séculos atrás. É preciso observar que como no evento do capitalismo, surgiu uma leva de espíritos mais evoluídos, principalmente do ponto de vista intelectual, em meados do século XIX e até primeiras décadas do século XX, surgiu uma nova leva de espíritos, ainda na esteira do avanço intelectual. Foram vários sábios tanto da área
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teórica ou doutrinária, como também da aplicação prática das teorias. Surgindo os grandes capitães da indústria, como Edson, Ford, Krup, Ericsom etc. Selaram de fato a união da teoria com a prática, cujo gérmen foi a Revolução Industrial. Isso aconteceu na ciência, mas não na religião!
A bem da verdade o “homem capitalista” é quase outra espécie humana, como foi o homem agrícola ou adâmico. Desse ponto de vista, o evento do capitalismo seria equivalente ao próprio homem adâmico surgido por volta de 10 mil anos atrás pela ilustração da ideia de Toffler sobre as ondas de desenvolvimento da sociedade humana. Depois de Adão e Eva como ponto de inflexão, temos o surgimento da escrita pelas religiões, como segundo ponto, e o surgimento do capitalismo, como terceiro. Os Gregos e Cristo foram apenas continuidade da religião com novo foco de visão, tanto quanto o feudalismo a continuidade da política, e de fato não mostraram ser grandes pontos de inflexão, exceto como mudança apenas religiosa e política. Mas o fato é que “previram” o capitalismo. Não se pode ainda arriscar qual seria o próximo, que Toffler e muitos outros grandes autores atuais, consideram a possível “Era da Comunicação”, ou algo similar. Far-se-á um detalhamento melhor mais abaixo, e presume-se ser de fato a Era da Moral e Ética dos governantes, com mais detalhes na Terceira Parte.
O homem adâmico usou a inteligência para usar seus braços, o homem capitalista está usando sua inteligência para usar o cérebro, essa é a grande diferença “orgânica”, e é claro que acompanha também as diferenças como espírito. Vamos dizer que homo-sapiens foi uma leva de espíritos, o homem-adâmico outra leva, o homem-religioso uma terceira e o homem-capitalista configura a grande “quarta leva” de espíritos povoando a Terra. Como crença, entretanto, cada um acredita no quiser.
Algo que ficou no começo da Era Capitalista é que o homem no campo não precisava de instrução e cultura, coisa que mudou drasticamente no século XX. O feudalismo com a cultura enjaulada nos conventos, necessariamente precisava do homem no campo e não na cidade, foi mais ou menos a mesma ideia atrasada do marxismo inclusive na indústria, que ainda prevalece em várias elites de governantes mais arcaicos ainda, como mostrou o comunismo soviético. Mera consequência de sistema de governo. Os três eventos mencionados voltaram de novo a empurrar as pessoas dos campos para as cidades, e esse se presume ser talvez ao maior fenômeno humano da Era Capitalista, e continuou de forma acentuadamente acelerada até nossos dias. Presume-se aqui que a revoada humana do campo para as cidades é de fato a característica mais típica do sistema capitalista do que o sistema produtivo e econômico de produção em si, que de fato foi uma mera consequência ou muito mais um efeito. Hoje no campo, além da tecnologia industrial, está garantindo também a tecnologia biológica, muito mais tecnológica e aprimorada.
Daí por que se admite a ciência como o grande consolador da humanidade prometido nos evangelhos, e não um evento isolado aqui ou ali, como de fato nascimento de algum “profeta redentor”. A ciência é de fato a ferramenta que viabiliza o tremendo urbanismo que presenciamos. Contudo, ciência não são os cientistas como religião não são os religiosos, e ainda se confunde tudo.
O surgimento do “homem capitalista”, apenas cinco séculos atrás, marca um ponto intermediário, onde se mostra a velocidade exponencial da própria evolução da sociedade humana, e esses eventos se apresentam como “gradientes ou mudanças de acelerações” nítidos e claros ao longo da história e até pré-história. O homo-sapiens “evoluiu” vagarosamente por quase duzentos mil anos, ainda que na escala de vida na Terra, seria de fato uma grande aceleração se considerarmos a Terra habitada com 4 bilhões de anos de existência. Acelerou muito com o “homem-adâmico” e “religioso”, e está numa aceleração tida até como “descontrolada” com o “homem-capitalista”, e já alertado no século XVIII por Malthus. Mas que graças ao capitalismo, se tem podido “adiar e até alterar” o catastrofismo da fome, ainda que de forma ainda burra e idiota, como mostram os problemas ambientais. Na realidade, o capitalismo foi fruto de necessidades humanas da rápida transmigração do campo para as cidades, formando grandes centros urbanos. Geraram-se novas necessidades que alguém teria que atender, esse alguém foram os mercadores, através do sistema capitalista de produção.
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As questões ainda importantes se situam nas formas de governos, ainda de caciques e pajés. Como se argumentará na Parte Três, o entrave atual para a ciência e a tecnologia está no atraso dos governos. Mas muito tempo hoje são séculos senão décadas, enquanto antes, eram milênios. Não temos como imaginar a sociedade humana na próxima década deste mesmo século, quanto mais no século XXII! Profetas antigos podiam “imaginar” a sociedade humana séculos à frente, hoje sequer décadas!
O grande paradoxo da era capitalista está na mistura de um sistema de produção exuberante que nunca a sociedade humana tivera até então, com um sistema de administração e governo ainda feudal e em alguns casos até tribal. Traduz numa tremenda evolução intelectual, sem o consequente avanço moral e ético. A nova Era será da evolução moral e ética, principalmente nos governos. Não se tem ideia de que nome dar, mas o fato é esse, estamos no limite de uma sociedade intelectualmente desenvolvida pelo capitalismo de produção, com moral e ética de governos ainda das pajelanças de Adão e Eva na velha moral pública de MENTIR PARA GOVERNAR. Esse é o viés que salta aos olhos a todo instante, ainda que de fato não faça parte dos noticiários inclusive, políticos e científicos. Religiosos nem se diga, porque ainda estão sentados nos velhos e milenares dogmas de fé que não se sustentam.
A visão da “saga capitalista” parece ter caminhado da seguinte forma. Uma elite emergente de capitalistas que, inicialmente parecia nitidamente de mercadores, foi, na realidade, “engolida” pelos meros senhores feudais que de fato dispunham de riqueza para formar o “capital” para iniciar e garantir um negócio de produção. A descrição detalhada está de fato no livro “A Riqueza das Nações” de Adam Smith, do final do século XVIII, ainda que mereça retoques de observações, interpretações e conclusões. Os mercadores de fato “bolaram o sistema” quase dois séculos antes da “reportagem” de Smith, e rapidamente se tornaram ricos, mas NÃO ERAM NOBRES. E ricos mesmos ainda eram os “nobres senhores feudais”, e até pela própria ganância dos mercadores, quando ricos preferiram ser engajados na pajelança de uma corte feudal do que de fato inaugurar uma nova elite empresarial, como se procura atualmente de forma ainda precária. Isso de fato não mudou muito até hoje, o prestígio de um empresário ainda se mede pela conta bancária e promiscuidade com os sistemas de governos que ainda têm suas cortes, de forma diferente. Mas são cortes privilegiadas por uma divindade mentirosa de pajés, exatamente como eram antes os pajés religiosos.
Daí que o “Negócio Capitalista” se tornou “propriedade” do senhor feudal, coisa que Marx percebeu, mas interpretou de forma péssima. Confundiu uma administração escravocrata de uma elite feudal, com o roubo miserável de um patrão contra um simples peão no sistema fabril de produção claramente ainda escrava, mas que sequer tinha proposta de fato de como mudar, e mesmo assim, melhorando de forma geral a vida do povão. Daí pregou sua revolução social, que no fundo era a mesma burrice acontecida justamente na época de Smith pela Revolução Francesa, nada mais do que a “primeira intentona comunista da história”, antes mesmo de surgir o “comunismo soviético” tido como o marco histórico da pajelança socialista idealizada por Marx e Hengel. Esses senhores na realidade apenas teorizaram o que se insurgiu na França culminando com a Revolução da Bastilha, que não tinha nada de social e acabou miseravelmente como começou, com um bando de pessoas imorais e antiéticas como os próprios reis que condenavam. Exatamente o que se repetiu na URSS, dois séculos depois com o comunismo socialista. A China comunista tenta dar outra roupagem mais “monetária”, mas é só isso ainda.
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